domingo, 16 de novembro de 2008

Propaganda brasileira: onde estamos nós (ainda invisíveis)

A propaganda brasileira representa bem as distorções do nosso país.

( entre neste link e comprove http://www.portaldapropaganda.com/vitrine/tvportal/2003/10/0003?data=2003/10)


Em um primeiro momento, uma comunidade, antes de ser plenamente reconhecida, é vista como um grupo de consumidores.
Incrível que a maioria da população passa ao largo de ser representada nos meios publicitários.

Isto mostra o quão rico nosso país é: ainda assim estamos entre os dez mais do mundo.

Lembro-me das propagandas de cerveja, sempre, ilustradas com loiros e loiras nórdicos.
Nunca me vi ali, e me perguntava, se as pessoas eram tão cegas, burras ou cínicas.
Ou se a vida era mais confortável assim, e aparentemente sem conflitos.

Outros produtos (quase todos) representavam o Brasil Ideal: a Finlândia.

Tempos de prêmios, e a compreensivel absorção do mundo da nossa propaganda.
Afinal, éramos iguais a eles, brancos, loiros e ruivos, olhos claros, sem gingado, anglos e saxões puros, linhagem direta de nobres europeus.

Anos depois, com o crescimento do mercado, percebemos que os atores e modelos em nossos comerciais começam a se aproximar do Brasil:percebemos loiras brasileiras, morenas.
Negros ainda numa representação reduzida, como em um pedido de desculpas.
Sorriem tanto, estes negros de comerciais que me pergunto: certamente riem de raiva, e por isso sorriem mais que todos, como para mostrar como são lindos e inteligentes e que mereciam oportunidades como protagonistas.

Mulheres e homens de comercial : por que não são negros?
O ideal de beleza brasileiro ainda não se emancipou.
Iremos importar a diversidade estética quando o mundo assim nos ordenar. Enquanto isso...

Os mais diversos produtos (sabonetes, margarinas, etc.) as familias, pessoas nas ruas, são todos brancos.
Nosso país é diverso , e diversas são as nossa ruas. Mas não os nosso comerciais.

A publicidade se utiliza e é utilizada pelo racismo à brasileira para nos invisibilizar.
Somos incinerados todos os dias na TV, outdoors e no coletivo das nossas mentes.
Caixas de incineração em massa. Aparecemos nas noticias quando negativas.

Mas continuaremos. Sabemos que nosso país somente será forte, quando se olhar, de frente, para o espelho. Somos muitos. Diferentes. Somos iguais.

E como alguém já disse há tempos atrás,as crianças estão olhando.
O nosso tempo é curto para desfazer o passado.
http://propagandas.multiply.com/video/item/27/27

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Os homens invisiveis do Brasil

Às
vezes andando nas ruas de Copacabana, me sinto como um fantasma.

Estou ao lado das pessoas, mas percebo que sou uma incômoda presença. Quase os atravesso, q

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Cidadãos de bem, velozes, em suas avenidas mentais. O último tênis, o último corte de cabelo, estão apenas cuidando de si. Ilhas e ilhas.

Ah, como queira que aquele menino com suas bolas de tênis nos surpreendesse com a sua habilidade no saibro. Gugas negros.

Somos milhões. E somos etéreos como o ar, por que como maioria, apenas assim podem nos ser indiferentes. Não pesamos quase nada ( e somos milhões!), nos adaptamos a quaisquer situações ("nós faz tudo dotô!).

Cidadãos de bem. Vejo milhares passarem por mim, e mesmo tendo cumprido um verdadeiro roteiro de cinema eu não estou aqui.

Me olho no espelho da vitrine da loja da esquina. Muito jovem, nem mesmo eu me vejo na minha novela das oito.

Afinal quantos protagonistas negros eu já havia visto?

Um segundo, um milímetro e agarro aquela bolsa, dou um piparote naquele guarda, dou um aú e uma rasteira naqule velhinho. Ah, um arrastão! Um mar como eu, em disparada, algazarra, que meninada!

Mais uma vez quase desisto de tudo. Estou descumprindo o papel que está tatuado em minha pele. Sou um marginal. O fato de estar em condicional não altera o meu crime.